quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Heróis covardes




O que nos faz heróis covardes?
Somos feito bichos
desejando a boca suntuosa
em romances irreais
em anúncios de consumismo egóico
e paixões ocasionais
Somos língua
em febre terçã
projetando talvez o amanhã
mas um herói covarde
não se move
diante das estatísticas
diante do mundo em mutações
diante das vísceras
e uma cruel desesperança
de inúmeras crianças mortas
em lentas chacinas
impostas pela falta, pela fome
pelos crimes á guisa
de nossa imagem e semelhança
Colhemos
o que outrora tramamos
em nossa bem-aventurança
em nossa moral cívica
em nossa fatídica
visão política
Covardes
pois ( crescemos? )
sem ver
a tessitura do olhar ao outro
sem estar plenamente ativos
uma mistura de instinto selvagem
e zonas de conforto
Vivemos
quase-mortos
semi-sonambulos
perambulando
uma quase-vida
que nos legaram de bônus
um ônus
que carregamos
feito um fardo
de passados medíocres
em que éramos
sempre vitimizados
Heróis
pois resistir
devido as circunstancias
sendo escravos
de ditaduras
e onipotências
leva-nos
a crises de consciência
mas as crises
ensinam
a sobrevivência
e a luta contra arrogância
de covardes
que nunca foram heróis
que nunca pensaram
em nós
que sempre tentaram
calar
nossa voz.




sexta-feira, 9 de outubro de 2015

As coisas




As coisas
de elementos
findáveis
não dão importância
a coisa nenhuma
são signos
invadindo
a (sa) ciedade
criando
a estética do beijo
-o supérfluo da arte-
as coisas
sem alicerce
alicerçam
o desejo utópico
idealizam o amor
idealizam
porque promovem
com esse ideal
um assedio moral, social
um carnaval fraudulento,
 leviana contradição...
uma idéia
de superfaturamento,
um estranho
caixa 2
do desejo e da masturbação.
Ignoram,
do bruto ao sublime,
qualquer sentimento
de indagação.
Somos
provocados
por essas coisas-estímulos
constantemente,
somos
o alvo desse atirador
caótico
desse serial killer
rondando
a nossa mente.
As coisas
de elementos
vazios
provocam
consumos inúteis, nocivos
criam voyers em selfies
criam status e ostentam
vergonhas alheias
criam
a máscara pobre
de um ser
que se assemelha
ao medíocre mundo
pós-moderno
um mundo
dedicado
ao pensamento raso
onde idolatram
o medo
a morte
o ego
o fácil
o falso documento
o atraso.
As coisas
de elementos
sem substancia
são crias da arrogância
invasora
são gases
de bomba atômica
que nos hiroshimam
transformando-nos
em seres previsíveis
em seres possíveis
de humilhação
As coisas
 de elementos
sem alma
são cláusulas ridículas
de contratos
corruptos
onde assinamos
nossa cruel sentença:
ou entramos na dança
barganhando o jogo
e corroendo a crença
ou, por força da circunstancia
eis que os atos
e os fatos nos banalizam:
as coisas,
inevitavelmente
nos coisificam.

sábado, 1 de agosto de 2015

Meritocracia




Por honra ao mérito
é muito comum a desonra
quando a justiça
não equilibra
os lados
é comum
a calúnia fazer acordos
com a indecência
são cláusulas e mais cláusulas
de absurdos
e intolerâncias...
A honra
sempre trai o mérito
quando o fato
advém
do óbvio
é uma cesária
renegando o risco
 uma placenta
segregando
ódio
A honra ( será que honramos? )
valerá, no futuro,
cada centavo
cada gesto
cada beijo
cada inocência
cada expressão
Decerto
a honra
se extraviou
rumo ao mérito
criando desonra
em território
apocalíptico
criando masmorra
em episódio
lírico
a honra
foi invadida
pelos idiotas
da razão
pelos seres estúpidos
que carregam certezas
involutórias
que carregam impurezas
feito escórias
argumentando
tudo em nome
da velha
constituição
A honra
virou negação
do mérito
como um
fato inverídico
como um passaporte
paralítico
cinzas
de um pretérito
 que se amalgamou
no espírito
A honra
poderá ser
petrificada
nesse conceito
maligno
de exclusão
poderá
ser indigna
de merecer
a mínima
consideração.
Pode ser,
que, algum dia,
seja feita,
sob nossa vontade
a meritocracia
em prol
da sociedade.






quarta-feira, 29 de abril de 2015

Relatos Selvagens




Nada é o que parece:
o vôo tranqüilo, os olhares ardentes,
as bocas sensuais, imorais, atraentes
de repente a queda, o grilo
o incomodo, o modess
dramas absorventes...
o suor escorre
no rosto, um impasse
resumiu forte enlace
a lágrima e o sangue
a prece e o disfarce
vida de ex-bumerangue:
mulher que se humilha
rasgados teus sonhos,
jorrados teus gritos,
teus berros medonhos
ativa e passiva conclui, vingativa
o seu carnaval
 a traição e a paixão galopante
em cenas de filme nacional:
-Chama a Glorinha
aquela vaca infame
dá um calmante pra ela
sei a diferença entre o cará e o inhame
já tenho tudo no meu nome
 vais virar alvo de piada,
como de costume
-------------/--------------
Assim é a vida
os risos e guizos
carecem de um pouquinho de ciúme
de um teatrinho barato
e mais fantasia:
um carinho, um maltrato
um cinismo, um contrato
e a imagem ( no alto )
da Virgem Maria
uma dose de xilocaína
e um tapa-na-cara na face molhadinha
a lua-de-mel
o dedo no anel
a manteguinha no anel e o cuspe-santo moscatel
que absurdo!
misericórdia...
-------------/----------------
O crime veio na pele
de um sujeito cabeçudo
o charuto do advogado
botou cinza
no fatídico
eis o plano de um Quasimodo:
servir de papel ao Bruno cagaço
encagaçando
qualquer novinha no pedaço
a ordem: deixá-las amarradonas,
com um ar de monstrinho fatal,
na sua prega de ex-rainha do mal
e ( provavelmente ) fugir
com algum deputado
pra uma ilha de paraíso fiscal
gravar trilha de comercial
da Atroveran
com cannabis na cuca
 e bolero de Satã
----------------/---------------
Somos seres corruptos
desviando propina
aos valeriodutos
somos elementares
bancando ministros
e parlamentares
assassinos em missões
jesuíticas
omissos no crime do
remix do Latino
a bunda da Anitta
provoca ereções eremitas
daqui dá pra ver os covardes
rechaçando evidencias
no esgoto central
Caguei seus otários:
nos relatos selvagens
já foi contemplada
a melhor
delação premiada.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ANO NOVO

                                    (Ao Tio Bertinho )                                         

Oferecemos a outra face
a quem quer que seja
somos filhos da liberdade
morando nessa pátria
onde o povo é o bolo
e a elite, a cereja
Conhecemos o ódio, sim
mas embarcamos com a vida
numa sinestesia morena ai, ai
numa transmutação infinda
Graças á nossa coragem
de ver o mar adiante
jamais calaremos
e o mar
Oh! misterioso mar!
levará nossas palavras
de ouro e de fé
levará nossos tesouros
que ficaram guardados por anos
levará nossos pingentes
feitos de angústia e metais
levará segredos demais
levará lembranças sutis
de velhos carnavais
restos de samba, camisinhas furadas
vômitos de bêbados, de transexuais
cacos de porres anônimos,
alguidar de oferenda,
versos de amores fortuitos,
barcos desfilando prendas
coroa de rainha...
Isso prova
que Dreher
desce macio e reanima
e que até lá
Deus nos permita
comer acarajé
bebendo vitamina
E que o Ano novo
seja sagrado
que nem pão com ovo
e que tudo renasça
nesse mundo
feito moela e o último gole de cachaça
no buteco mais vagabundo
no buteco mais esquecido
onde sei
que a última palavra ( ou a tentativa )
resistirá
O Ano novo
chegará
e nós chegamos
estamos vivos
e nada impede
que façamos
os pedidos
os desejos
que possamos ouvir
menos os sertanejos
e mais notícias boas
que possamos
saber nomear melhor
ministros
que possamos
ter melhor escolha
e uma Seleção
menos caolha, menos Europa
menos roncolha
que, nossa corrupção
assuma de vez
seus filhos
pra não ficar nessa de DNA
depois que o trem
já esmagou todos
amarrados nos trilhos
Enfim,
que todos sejam felizes
e abram o coração
para o novo
para o milagre
de viver o Agora
de viver a plenitude
de viver além
do Sistema Único de Saúde
Sem essa de boa educação
só na hora da merenda
e boa cultura
só pra quem
tem boa renda
Sejamos mais justos
Sejamos o ar puro
que mora nos arbustos
Sejamos a perfeição
que mora nos bustos que é DeMillus
Sejamos a compaixão
e o colírio dos bons olhos
Sejamos o mar
que mesmo estando em abrolhos
nos permite navegar
Sejamos o amor
o único lugar de ser e estar
de viver e cantar
de sorrir e comemorar
um Feliz Ano Novo.
                                 Vitor Pessoa